quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Fundação das Misericórdias

Fundação das Misericórdias

«A fundação da Misericórdias ocorreu em circunstâncias especiais. D. Manuel I casou em 1947 com a viúva do Príncipe D. Afonso, a formosa D. Isabel de Castela.
Poucos meses depois, tiveram de partir para Castela onde deveriam ser aclamados herdeiros do trono, deixando como Regente do Reino Dona Leonor».
Nessa regência que durou pouco mais de seis meses, deu-se um acontecimento extraordinário que revela bem o eficiente governo e inteligência da Rainha viúva. A 15 de Agosto desse ano de 1948, fundava a instituição da Irmandade de N.ª Sr.ª da Misericórdia, coadjuvada pelo seu confessor, o valenciano Frei Miguel Contreras, da Ordem dos religiosos da S. S. Trindade.
Era a primeira organização assistencial que existia na Europa com características estruturais para um amplo raio de acção.
«Regia-se esta Irmandade constituída por 100 pessoas voluntárias, por um Compromisso que é considerado extraordinário para a época, e se tornou o modelo para muitas Misericórdias que se propagaram por todo o Portugal d’aquém e d’além-mar».
«A sua acção caritativa e humanitária de resgatar da morte e da fome muitos desgraçados, amparar os expostos, os velhos, os enfermos, o resgate e transporte dos cativos, os dotes a donzelas e o recolhimento de órfãos; o amparo às viúvas pobres; agasalho e tratamento dos enfermos desvalidos; a alimentação dos presos nas cadeias; sua defesa perante os tribunais e petições à Coroa; pousada e ajuda para o caminho aos peregrinos; e finalmente aos confortos religiosos aos padecentes, enterramento e preces pelas suas almas, foram acções desenvolvidas pelas Misericórdia ao longo dos séculos»!
A primeira Sede desta Instituição foi na Capela de N.ª Sr.ª da Piedade ou da Terra Solta, como era conhecida por causa do seu pavimento térreo, da Sé Catedral de Lisboa. Esta Capela, fundada por D. Margarida Albernaz, mulher de Nuno Fernandes, almirante de D. Dinis, é do final do séc. XIII e início do séc. XIV.
«Como as instalações se tornaram pequenas para o apoio necessário às suas muitas actividades, ordenou D. Manuel a construção de uma Sede própria, isto é, uma igreja e edifícios anexos para instalação dos serviços e estabelecimentos da Irmandade, perto do Paço Real da Ribeira, na igreja da Conceição Velha.»
Com o terramoto de 1755, seguido de incêndio, a Irmandade de N.ª Sr.ª da Misericórdia obteve de D. José I a sua nova e definitiva sede, que é a actual, ao lado da igreja de S. Roque, na Casa Professora da Companhia de Jesus expulsa do Reino pelo Marquês de Pombal.
Mas um factor extremamente importante que fazia intervir a Misericórdia ou Santa Casa como já era conhecida, é a Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício. No tempo de D. Leonor, o tribunal teve a sua acção muito limitada, uma vez que a própria Rainha foi sempre um freio à mortandade indiscriminada e perseguição doentia aos judeus e cristãos-novos; horror esse que se instalou como instituição no reinado de seu sobrinho D. João III em 1536.
A Inquisição matava mas não enterrava! A Fundadora da Misericórdia sabia-o bem. Por isso, é que os condenados à forca, ou à fogueira hedionda, transportavam a bandeira da Irmandade numa derradeira esperança de aconchego na alma pela entrega do que viria a restar do corpo; cinzas e nada mais.
Isto, porque os «cadáveres para sempre dos enforcados», ficavam no local do suplício até se desfazerem por putrefacção ou serem devorados pelos cães; e os cadáveres dos negros, dos escravos, eram lançados nas praias do Tejo em entulhos, sendo considerado um acto de grande piedade a construção dum poço por el-Rei D. Manuel, destinado especialmente a tal fim, dando origem a denominação, que ainda perdura em Lisboa, de Rua do Poço dos Negros».



Por: Maria de Lourdes Amorim

Jornal de Alenquer

1 comentário:

João Richau disse...

1947? 1948? Atualizem lá as datas, trocando o 9 com o 4