domingo, 15 de agosto de 2010

Lares enchem vagas com descontos

Crise
Lares enchem vagas com descontos
por ANA BELA FERREIRA

Privados reduzem mensalidade e fazem planos de pagamentos para fazer face às dificuldades das famílias

Maria e Antónia (nomes fictícios) estiveram no Lar de Idosos de São Mamede Infesta, seis e sete meses, respectivamente. Maria saiu em Maio e Antónia em Junho porque as suas famílias não conseguiam pagar 830 euros por mês. A saída das duas idosas do lar não é caso único. A crise está a levar as famílias a retirar os idosos das instituições, conforme alerta o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos. Para combater este fenómeno, os lares privadas estão a fazer descontos nas mensalidades e planos de pagamentos.

A redução do preço da mensalidades tem como objectivo conseguir ocupar todas as vagas. "Lares que antes apenas tinham uma ou duas vagas, hoje não só têm mais lugares vagos, como demoram mais tempo a conseguir ocupá- -los", revela o presidente da Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casa de Repouso (ALI). João Ferreira de Almeida dá como exemplo instituições que tinham 1200 euros de mensalidade, acabam por cobrar apenas 1000, para ganhar clientes.

Outros lares privados optam por fazer planos de pagamentos para as famílias que se atrasem no pagamento. Tal como acontece no lar da Fundação D. Pedro IV, em Lisboa. "Quando as famílias não conseguem fazer face à despesa, reformulamos a mensalidade e se for preciso passamos esses utentes para o sistema da Segurança Social, que também temos aqui", refere uma das funcionárias da instituição.

O mais preocupante para os responsáveis são as condições em que os idosos ficam quando são retirados dos lares, para muitas vezes ficarem sozinhos em casa durante grande parte do dia. Manuel Lemos admite que "as Misericórdias têm conhecimento da saída de idosos de alguns lares", embora esse seja um fenómeno sem reflexo da actividade das associadas da UMP devido às listas de espera.

"Agora reconhecemos que, em épocas de crise, algumas famílias retiram os idosos dos lares", frisa este responsável, explicando que "a reforma do idoso é, nesta altura de orçamentos familiares apertados, uma fonte de rendimento para a família". Também o dirigente da ALI diz ter conhecimento "de situações pontuais deste género". "As famílias retiram os idosos de forma a ficarem com a pensão, o que tem que ver com situações de desemprego", explica João Ferreira de Almeida (ver texto).

Maria Lourenço, do Lar Bom Pastor, em Lisboa, garante ter "conhecimento de casos de famílias que retiram os idosos para os ter em casa". "Normalmente contratam uma pessoa para tomar conta dele durante umas horas e prestar cuidados mínimos", diz, salientando que no seu lar nunca houve um caso destes.

Também Liliana Lopes garante que no Lar Santa Rita de Cássia, no Porto, nunca ocorreu um caso deste género, embora também já tenha ouvido falar de que há idosos que são retirados dos lares para que a sua reforma ajude no orçamento familiar, em casa.

Tal como para Manuel António, do Lar de Idosos da Fundação de Santo António, em Ferreira do Alentejo. "Mas não temos nenhuma situação dessas, até porque os idosos são, por norma, pessoas com reformas baixas, pelo que o contributo será mínimo."

DN

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