terça-feira, 6 de janeiro de 2009

“Os Séniores com a saúde necessária à participação activa”

Por Maria João Quintela

A complexidade que envolve individualmente os conceitos de envelhecimento, de
velhice, de seniores, de pessoas idosas e de saúde, cultura, direito e dever é
muito vasta.
Resultando da sua própria complexidade, a interligação entre estes conceitos e a
sua componente objectiva e subjectiva, fazem entender a enorme importância, e a
real e necessária multidisciplinaridade e interdisciplinaridade da Gerontologiai.
Apesar da diferença ser a característica mais evidente do envelhecimento
demográfico, populacional e individual, na sua natureza multidimensional, estamos
ainda longe de concretizar a mudança no nosso léxico discursivo, mental e social,
demasiadamente homogeneizante.
Essa mudança obriga à assumpção da diversidade e à confrontação com os
modelos mentais que ainda hoje, frequentemente, reduzem esta temática aos
estereótipos dos fenómenos biológicos mais visíveis, das perdas progressivas de
capacidades, da doença, da dependência e, quando não raras vezes verbalizado
de forma mais ou menos contundente, de fardo social e de problema de
sustentabilidade económica.
É assim, num contexto de ambiguidade utópica que, o querer viver mais tempo
sem querer envelhecer, se confronta com a realidade pungente de uma população
crescente que teima em não morrer, que permanece independente cada vez mais
tempo, e que visivelmente não pode ser considerada um grupo homogéneo,
incómodo, difícil de gerir, e esteticamente a ser objecto de correcção cirúrgica.
Acresce que a dignidade com que a população idosa é tratada, está longe de
observar os mais elementares direitos humanos, inscritos em constituições,
legislações e declarações nacionais ou universais.
2º CONGRESSO DA PASTORAL DA SAÚDE
AO SERVIÇO DA PESSOA – CURAR E CUIDAR
Fátima, Centro Pastoral Paulo VI. 1 a 3 de Fevereiro de 2007
“A Saúde como Cultura/A Saúde como Direito e Dever” –
“Os Seniores com a Saúde Necessária à Participação Activa”
Maria João Quintela
Assistente Graduada de Clínica Geral
Coordenadora da Divisão das Doenças Genéticas, Crónicas e Geriátricas
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A inclusão social de pleno direito, indispensável a uma participação activa e
saudável, vacila na desagregação estratégica, na luta pelo protagonismo das
iniciativas e no constante atropelo de uma individualidade humana engolida pela
massificação, pela rotina, pela insensibilidade da ausência de um pensamento
estruturante, que responda de forma complexa, diversificada e abrangente, às
múltiplas necessidades e aos diferentes actores das respostas.
As respostas às necessidades da população que envelhece não podem reflectir a
diversidade conceptual de cada dirigente de um serviço público ou privado sobre o
envelhecimento ou a velhice.
Estas respostas têm que observar critérios mínimos de qualidade e de
competência que garantam ao cidadão que necessita desses serviços, padrões de
excelência, de confiança e de acessibilidade compatíveis com as vontades
próprias e com as disponibilidades financeiras médias da população portuguesa.
Muitos determinantes saúde dos seniores estão fora do sector estrito da Saúde,
carecendo a abrangência das múltiplas necessidades, duma visão abrangente e
integrada das respostas. Nesta matéria específica da saúde dos cidadãos mais
idosos, e das fragilidades que acompanham o envelhecimento, o resultado de
ganhos de saúde, autonomia e independência, não decorre apenas do somatório
das acções dos múltiplos intervenientes.
É preciso entender que os cidadãos têm que trabalhar, as famílias já não
conseguem desdobrar-se, não podem ou não querem, e a oferta de serviços ainda
mantém a prioridade na solução organizacional aparentemente mais fácil, de nos
reservar uma boa cama para a velhice, por muito que tentemos atingir as médias
europeias de resistir pelo menos 20 anos, à total dependência de terceiros.
Para as sociedades de hoje, para os seniores, para os envelhecimentos e as
velhices, as questões ainda se sintetizam à volta da idade cronológica, mais
propriamente a do bilhete de identidade, como elemento preponderante.
No entanto, sabemos que as múltiplas idades que cada um tem dentro de si e no
plano social, reflectem efeitos mais ou menos bem governados da ordem familiar,
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sócio-sanitária, ambiental, económica e de planeamento integrado, que se
esgrime com o património genético e com a vontade ou possibilidade que cada um
tem de participar na sua própria saúde e na sua própria vida.ii
E é assim que a saúde ao longo da vida, a duração efectiva de vida de cada
indivíduo, a duração média de vida e a esperança provável de vida, dependem,
entre múltiplos factores, dos diferentes tipos de sociedade em que se inserem, das
épocas históricas vigentes, de ideias e de práticas de ordem cultural, de trabalho,
de alimentação, de higiene, de comportamentos e de ambientes, de intervenções
terapêuticas e do tipo de serviços disponíveis, isto é, de determinantes mais ou
menos bem governados dos modos de vida sociais ou individuais.
Neste paradigma da idade como factor preponderante de todas as decisões, não é
de espantar a manutenção do ”omnipresente síndrome do ainda”iii: “Ainda anda?,
Ainda escreve? Ainda lê? Ainda se interessa por política? Ainda gosta da vida?
Vejo que ainda consegue ler o jornal...” iv
Até Galeno via a idade avançada como “ o tempo mais “seco” da vida”...” Eles
perderam quase todo o sangue que tinham no corpo...O que é a velhice, senão o
caminho para a morte?...”
Mas o Deus chinês da longevidade, Shou, era um Deus calvo, barbudo e com
bigode, com 150 anos, segurando um pêssego na mão, significando a
imortalidadev.
Quando as pessoas pensam nos idosos, têm tendência a centrar-se, como
Galeno, sobre as modificações que se operam no corpo…o aparecimento dos
cabelos brancos, das rugas, da flacidez da pele e da diminuição da estatura...vi
As pessoas que não associam envelhecimento com actividade, esquecem-se com
frequência da dimensão do envelhecimento relacionada com o ambiente em que a
pessoa idosa vive.
Com que frequência o clínico pergunta a uma pessoa idosa que lhe aparece no
hospital pela primeira vez sobre a disposição das divisões da casa, a existência de
escadas ou de elevador, a existência de apoios na banheira ou corrimão, a
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acessibilidade às compras do dia-a-dia, a qualidade dos transportes, a dificuldade
em atravessar as ruas, a segurança e higiene do ambiente à volta da casa?vii
Muitas pessoas idosas com problemas auditivos, por exemplo, são rotuladas de
confusas e senis, em virtude das suas perguntas e respostas desajustadas. Não
se contempla o facto da diminuição da audição concorrer para o isolamento e para
as dificuldades de comunicação, atribuindo apenas à idade a causa da deficiência
ou das deficiências. No entanto, sabemos que a mais corrente causa de
hipoacúsia nas pessoas idosas é reversível, porque se resume a extrair o “rolhão”
de cera existente.viii
Do mesmo modo, culpamos a idade de todas as nossas falhas de memória, mas
não a cultivamos nem exercitamos, como qualquer outra função.
Mesmo quando doentes, desenraizados do nosso contexto vivencial, internados
numa qualquer instituição hospitalar, quem se preocupa em nos actualizar as
notícias, em nos fazer chegar um jornal, em nos envolver num atelier de memória,
em nos manter viva e actual a ligação com o mundo exterior, para não nos
sentirmos vindos do fim do mundo no dia da alta?
Se repararmos bem, a nossa memória longínqua ainda se encarrega de forma
mais ou menos razoável, de sabermos o nosso nome, talvez o número do Bilhete
de Identidade, recordar muitos acontecimentos da nossa infância.
Mas a memória recente atraiçoa-nos com mais frequência. Conseguiremos dizer
os acontecimentos das duas últimas semanas? Lembramo-nos do que foi o nosso
almoço de há dois dias, onde pusemos a chave de casa quando entrámos ontem
apressadas para fazer o jantar, largando a chave ou a carteira fora do sítio
habitual?
Não utilizámos os mecanismos da repetição e da atenção, fulcrais no processo de
memorização, mas inevitavelmente culpamos a idade, a decrepitude, a diminuição
das capacidades, como uma fatalidade sem recurso.
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Esquecemo-nos frequentemente da nossa memória sensorial, visual, que nos faz
relembrar tantas coisas ao olharmos fotografias, objectos, ao rever filmes do
nosso tempo.
Do mesmo modo, a nossa memória olfactiva quase nos permite descrever ao
pormenor os odores estimulantes dos cozinhados da nossa avó, ou salivar com a
lembrança dos sabores de vinhos que gostamos.
E que dizer da memória táctil, que nos permite recordar um nosso fiel amigo, ao
fazermos festas no pêlo macio de um cão.
Quer isto dizer, que a nossa memória são as nossas memórias, não são apenas
parametrizáveis quando nos perguntam que dia é hoje, qual é o nome do primeiro
ministro ou do presidente da república, ou se sabemos onde estamos.
É preciso contextualizar a avaliação da saúde das pessoas idosas na envolvente
situacional da pessoa, no seu sofrimento, nos seus medos e angústias ou na sua
solidão, na sua poli farmácia, na sua poli patologia, ou na sua falta de dentes.
Eu não sou a mesma velha com dentes ou sem eles, por muito que a minha idade
cronológica não mude com uma dentadura.
É pois necessário adequar as intervenções e incentivar a independência, o auto
cuidado, estimular a memória… e aprender a saber
repetir……repetir……..repetir…, com paciência. E não se pense que se nasce
com paciência, com jeito para “isto”. A paciência é uma competência que se treina.
Quem quiser cuidar bem de pessoas com falta de memória, tem que desenvolver
essas competências, para repetir ou para ter paciência, como qualquer outro
atributo de um cuidado com qualidade e com humanidade.
Cuidar com humanidade, modifica a idade com que nos sentimos, alivia-nos o
peso do sofrimento, dá-nos coragem para continuar a viver.
Cuidar com humanidade confere-nos o dever de participar no esforço de melhorar,
e é, acima de tudo, um direito que nos assiste, que promove a nossa saúde, e que
nos permite participar, seja qual for a nossa idade ou a nossa incapacidade.
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Os aspectos da comunicação, estão longe de se resumir à comunicação verbal e,
por maioria de razão, quando estamos mais fragilizados, é necessário saber
comunicar, mesmo com o silêncio. Se assim não for, corremos o risco de ser
abandonados.
É necessário construir uma abordagem educativa e centrada na pessoa. As
pessoas, mesmo num estádio inicial da doença, são poucas vezes informadas do
seu diagnóstico, são pouco implicados no processo de tomadas de decisão, no
que diz respeito aos seus cuidadosix.
Os doentes seniores, são frequentemente tidos como incapazes de serem actores
da sua própria saúde, em virtude dos défices cognitivos.
Os doentes com patologia neurodegenerativa estão, frequentemente,
aparentemente excluídos da relação de cuidados, cujo protagonismo cabe ao
actor principal.
Mas as pessoas idosas têm direito à Saúde e à Autonomia. A pessoa idosa doente
não é apenas o “doente que espera”, é actor e tem um projecto de vida.
O profissional, o prestador de cuidados, não é apenas “aquele que sabe”. É um
interlocutor e tem uma missão a desempenhar.x
Ainda hoje, as estatísticas de mortalidade são as mais utilizadas para informar
sobre o estado de saúde da população. Estas estatísticas, demonstram no
entanto, a desigualdade social perante a morte.
O que nós ainda estamos longe de saber é se juntámos efectivamente mais
qualidade de vida ao aumento de esperança de vida que se conseguiu.
Os indicadores da funcionalidade exprimem uma dimensão mais abrangente da
situação de saúde da pessoa idosa, complementares dos indicadores de
morbilidade e mortalidade. É a idade avançada, vivida com dificuldades maiores
ou menores na vida do dia a dia, mas que, com pequenas compensações, pode
traduzir-se na continuidade da independência da pessoa. São as ajudas técnicas,
os apoios, a perspectiva da capacitação, a promoção da saúde para uma
autonomia e independência o mais tempo possível, que podem fazer a diferença
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entre viver e envelhecer com saúde, ou resumir a nossa complexa orgânica
funcional ao rótulo diagnóstico de uma doença, de uma incapacidade ou de uma
dependência.
E mesmo quando não há nada a fazer, há muito para fazer. Há que cuidar, que
aliviar, que confortar, que mobilizar, que hidratar, que alimentar, que ajudar a
aceitar e a lutar.
Torna-se necessário chegar perto dos cidadãos mais frágeis e apoiar as pessoas
na comunidadexi, sem as desenraizar, sem lhes provocar adaptações impossíveis
de superar.
O “valor da vida humana”, e o “serviço à vida”, de que se fala na mensagem e na
nota de abertura deste Congresso, têm grande sentido na forma como avaliamos,
promovemos e acompanhamos a saúde ao longo do nosso envelhecimento.
Quanto vale e para que serve a vida de uma pessoa idosa na nossa sociedade?
Para que serve viver mais tempo, conquistar anos de vida, anos de vida com
saúde, se, quando doente, não me estimulam as funções remanescentes, se
irritam porque repito as coisas muitas vezes, me deixam onze horas por dia
sentado à frente de uma televisão sem som, deitado na cama sem me
mobilizarem à espera que a escara surja, meia hora de súplicas para me retirarem
a arrastadeira?
Quanto vale a promoção da funcionalidade do meu lado são, se as sequelas de
um acidente vascular cerebral deixaram marcas de imobilidade na outra metade
do meu corpo e eu não tenho quem me ajude a sair à rua ou a fazer actividade
física?
Quanto vale a confiança que depositamos em alguém, filho, filha, enfermeiro,
enfermeira, médico ou médica, assistente social ou terapeuta, que nos devolve a
esperança, nos acompanha e nos faz sentir vivos?
Quer isto dizer que é necessária uma abordagem muito para além do habitual
“paradigma de doença” e perceber o que a pessoa é ou não capaz de fazer, em
especial no seu meio habitual de vida.xii
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“Fragilidade”, significa assim, não apenas um conceito de perdas musculo
esqueléticas, cardiovasculares, metabólicas e imunológicas, mas também um
conjunto de circunstâncias, relacionadas com o declínio da actividade física, quer
por hábitos de inactividade, quer por resultado de doença.
Deste modo, a “fragilidade” distingue-se do normal processo de envelhecimento,
sendo, portanto, susceptível de intervenção e melhoria.
Mas não nos podemos esquecer que os determinantes major, predictivos de
internamento institucional são a inexistência de família, inexistência de cuidados
informais, inexistência de cuidados domiciliários e de proximidade, gravidade da
dependência e o estado civil.xiii
Compreender e Envolver a Família, constituem pois aspectos fundamentais na
interpretação do conceito de independência das pessoas idosas.xiv
A saúde é aqui considerada como um recurso da vida quotidiana e não apenas um
objectivo a atingir; trata-se de um conceito positivo que valoriza os recursos
sociais e individuais, assim como as capacidades físicasxv.
O conceito de envelhecimento activo traduz-se assim, no processo de optimização
das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a
qualidade de vida das pessoas que envelhecemxvi.
É muito importante, ainda, lembrar que os maus tratos às pessoas idosas só foram
reconhecidos recentemente, como um problema global.xvii
Neste contexto, o fenómeno é universal, pela sua prevalência, sabe-se que o
agressor é, em geral, conhecido da vítima, que são mais vulneráveis os muito
idosos, os que têm incapacidades funcionais, as mulheres e os pobres, que os
maus tratos ocorrem, em geral, dentro do contexto familiar e/ou da unidade em
que são prestados cuidados, e que frequentemente não são diagnosticados ou
reportados.
Os maus-tratos às pessoas idosas constituem uma violação dos Direitos Humanos
e uma causa importante de lesões, doenças, perda de produtividade, isolamento e
desespero.xviii
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Enfrentar este problema e reduzi-lo, requer uma abordagem multisectorial e
multidisciplinar, com a família e as pessoas idosas como principais e fundamentais
elementos da equipa de apoio, cuidados e acompanhamento.
Há que trabalhar juntos, com a intervenção de múltiplos sectoresxix para a saúde
dos seniores, necessária à participação activaxx:
- reduzir a pobreza
- promover os contactos sociais (ex: previne a solidão e a depressão)
- melhorar a habitação (ex: previne acidentes)
- apoiar os que vivem sós (ex: acessibilidade às compras)
- disponibilizar serviços (ex: transportes, bibliotecas, educação, lazer)
- articular com as autoridades locais (ex: para intervenções relativamente ao
frio no inverno)
- mudar mentalidades e atitudes (ex: imagens negativas do envelhecimento /
papel dos media)
Também importa reformular alguns aspectos habitualmente ligados aos custos de
saúde do envelhecimento:xxi
- A ideia de que as pessoas idosas utilizam desproporcionadamente os
recursos de saúde deve ser combatida.
- O que custa caro são as incapacidades e a pouca saúde.
- Uma boa saúde nas pessoas idosas, poupa dinheiro, permitindo utilizá-lo
noutras necessidades.
- O envelhecimento activo é um componente central de uma agenda de
desenvolvimentoxxii.
Não poderia aqui deixar de assinalar os três eixos fundamentais do Programa
Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas, editado pela Direcção- Geral da
Saúde em 2006xxiii, e que são:
- promoção de um envelhecimento activo e saudável;
- adequação dos cuidados de saúde às necessidades específicas das
pessoas idosas;
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- desenvolvimento intersectorial de ambientes capacitadores da autonomia
e independência das pessoas idosas
Queremos adaptar as respostas existentes, às novas necessidades das pessoas
idosas:xxiv
- Prevenir a Síndrome do “Chá e Torradas”
- Prevenir a Inactividade e o Tédio
- Prevenir a Solidão
- Acompanhar, nas situações de perdas e luto
- Interagir com diferentes grupos de idades
- Promover comportamentos saudáveis ao longo da vida
- Promover uma boa nutrição
Os paradigmas têm que evoluir de um envelhecimento medicalizado e passivo,
para um envelhecimento com mais saúde e participativo.
Queremos ultrapassar as barreiras do distanciamento e promover a saúde do
envolvimento, da proximidade, do acompanhamento e da promoção da autonomia,
da independência e da esperança média de vida das pessoas idosas.
Queremos promover boas práticas e deixar de ignorar as pessoas idosas,
nomeadamente as mais fragilizadas, de que a frase que se segue é
paradigmática:
“Quando vou à consulta, o médico só fala com a minha mulher. Eu sou apenas um
conjunto de palavras neurológicas, difíceis de entender”…xxv
Onde complementar informações :
- Plano Internacional de Madrid para o Envelhecimento 2002.
- Organização Mundial da Saúde (OMS). Active Ageing- A Policy Framework.
http://www.who.int/ageing/publications/active/en/index.html
- Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Recomendações para um envelhecer com
qualidade.MS, 2006. http://www.portaldasaude.pt
- Direcção-Geral da Saúde. Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas. DGS,
2006. http://www.dgs.pt
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ivHORTON, Richard. Ageing today and tomorrow: Ageing Today and Tomorrow. The omnipresent still syndrome. The Lancet,Vol.350, Nº.
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v GALBRAITH, J K. Growing old gracefully. N Engl J Med 1994; 331: 484-85.
vi HORTON, Richard. Ageing today and tomorrow: Ageing Today and Tomorrow. The omnipresent still syndrome. The Lancet,Vol.350, Nº.
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vii Cf. HORTON, Richard.The omnipresent still syndrome.The Lancet,Vol.350, Nº. 9085, 18 october 1997.
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xvi WHO. Active Ageing, A Policy Framework. A contribution of the WHO to the second United Nations World Assembly
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xxv Vincent, Isabelle.Imane,Latifa.La Santé de l’Homme. Construire une démarche éducative centrée sur le patient dans le cadre de la
maladie d’Alzheimer. Nº.377.www.inpes.sante.fr

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