sexta-feira, 22 de maio de 2009

LARES VERSUS APOIO DOMICILIÁRIO

LARES VERSUS APOIO DOMICILIÁRIO

Continua a estar na ordem do dia a discussão sobre a institucionalização de Idosos em Lares, partindo-se sempre do princípio, algumas vezes errado, que nos lares só existem pessoas institucionalizadas. Temos, no entanto de concordar que essa é a situação da esmagadora maioria dos casos e isso faz com que a representação dos lares não largue a imagem asilar que já se vem arrastando desde tempos imemoráveis.

Os militantes da anti-institucionalização, defendendo em alternativa a manutenção das pessoas em casa, começam a ganhar terreno pelo aprofundamento da discussão e essencialmente por novos argumentos que vão surgindo e ainda pela inoperância que existe em transformar o modelo actual dos lares.

Se por um lado os cuidados domiciliários levantam dúvidas e reservas tanto do ponto de vista da sustentabilidade económica como essencialmente do ponto de vista operacional por inexistência de qualquer modelo que apresente evidência comprovada, acrescentando a isto que as Instituições sociais não desenvolveram até hoje qualquer evolução na prestação destes cuidados e as entidades privadas insistem em reservar este serviço a um segmento muito elevado em termos económicos, por outro lado os cuidados domiciliários são uma das bandeiras da Organização Mundial de Saúde e das entidades de saude de quase todos os países desenvolvidos, incluindo o nosso, argumentando-se que essa é a melhor forma de mantermos a vida activa na Grande Idade e de promover o envelhecimento saudável. Este argumento parece e é óbvio por muito que se insista que os lares poderão vir a melhorar no sentido de não institucionalizar os seus residentes.

Estamos perante um problema cuja solução passa desde já por reflectirmos sobre as duas alternativas.
É muito aceitável que desenvolver um modelo de cuidados domiciliários eficiente tem menos custos que alterar o modelo actual dos lares de idosos. Primeiro porque com a criação de um modelo de cuidados domiciliários não temos que mudar atitudes, comportamentos e mentalidades, bem como não teremos como obstáculo a prática continuada ao longo de anos de Instituições cujo peso e importância social dificilmente permite alterações. Em segundo lugar o modelo de cuidados domiciliários pode ser experimentado, melhorado pela participação de pessoas e instituições, envolvendo todos os interessados das mais variadas áreas e não causará constrangimentos de ordem económica já que não requerem investimentos em estruturas físicas.

É pois necessário começarmos esta caminhada e procurarmos a sensibilidade da área social já que na área da saude a aposta é quase exclusiva nesta solução.

O maior problema que se levanta é criado pelo modelo de contratualização de serviços com o Estado, imposto por leis desadequadas. O actual modelo favorece extraordinariamente o recurso a Lar de Idosos em detrimento da manutenção no domicílio, comparticipando com valores mais elevados a prestação de serviços da Instituição em lares do que em domicílio.

Ou seja, o modelo de comparticipação promove a institucionalização na medida em que se o Idoso for para o Lar, a Instituição recebe o triplo de comparticipação do que se lhe prestar o serviço no seu domicílio.

Mas por seu lado esta comparticipação é feita à medida dos cuidados que as instituições se propõem fazer e que se reduzem a higiene, alimentação e praticamente só uma vez por dia nos dias úteis. Por vezes pode haver segunda visita e essa já tem uma comparticipação um pouco mais elevada. Acontece também que este serviço é invariavelmente incontrolável, não fiscalizado e raramente adequado às necessidades reais, por falta de capacidade ou tão só por falta de avaliação normalizada.

O Lar tem vigilância 24 horas por dia, não fecha aos fins-de-semana e aos feriados, tem enfermagem, ainda que em poucas horas e um médico uma vez por semana que não observa, como é óbvio, todos os residentes.

E se estes cuidados fossem garantidos em casa das pessoas? Seriam comparticipados?

Não se trata de deixar de comparticipar através das instituições (podia ser mas isso levanta outros problemas e põe em alerta outros valores). Trata-se somente de comparticipar os mesmos cuidados no Lar ou em casa.

Concluindo: É necessária disponibilidade para a área social alterar a comparticipação, através de contratos atípicos, por exemplo. É fundamental inventar um modelo de cuidados. Finalmente é preciso disponibilidade de instituições ou novos operadores para garantir estes serviços.

Vamos cuidar da Grande Idade no domicilio, melhorando a vida activa, promovendo um envelhecimento mais saudável e diminuindo, ou pelo menos, mantendo os custos?

Vamos a isso.

Rui Fontes
Presidente da Associação Amigos da Grande Idade

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