sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Inovação Social

Inovação Social – Uma nova epopeia
Carlos Zorrinho
Coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico


Inovar é fazer diferente para fazer melhor. Esta ideia simples aplica-se ao mundo dos negócios e à administração, mas também à vida quotidiana dos indivíduos, das famílias e das sociedades. O mundo em que vivemos fornece-nos múltiplas ferramentas tecnológicas e até conceptuais para fazer diferente e até para ser diferente na forma de concretizar a diferença.
Dispomos de muitas formas de inovar na maneira de inovar. Um pouco por todo o lado vão-se desenvolvendo processos de inovação na inovação (inovação 2.0), em que a criatividade é o motor da descoberta de novas linhas de acção, novas fontes de valor ou novos projectos de vida. Mas será que estamos tão preparados para fazer melhor como estamos para fazer diferente?
No mínimo temos que assumir que a resposta não é imediata. Exige reflexão aberta e aproximação por tentativa e erro ao que é essencial para melhorar o mundo em que vivemos. Um mundo que vive tempos marcados pela percepção de crise, em larga medida resultante da supremacia da especulação sobre a capacidade empreendedora, é por isso mesmo um mundo ávido do desenvolvimento de novas dimensões de empreendedorismo e inovação, em particular no domínio social.
A globalização em rede introduziu uma disrupção caótica na nossa sociedade. Disrupção porque tornou obsoletos os referenciais tradicionais. Caótica porque movimenta tantas variáveis que torna impossível qualquer tentativa de determinismo prospectivo, antecipação segura ou previsão rigorosa. O desafio que a sociedade global nos coloca é complexo, denso e desafiante.
Desafios como estes são exactamente aqueles a que os portugueses, podem dar contributos de solução com evidentes vantagens comparativas.
A identidade e a cultura portuguesas foram-se construindo ao longo de séculos numa base de abordagem holística e sob pressão dos problemas. Não se espere de um português conforto na antecipação planeada. Perante o desafio o português resolve, ou seja, perante um problema complexo ele treinou-se geração após geração, para encontrar uma resposta suficientemente simples que se torna possível de concretizar sem prévio planeamento ou análise aprofundada.
Ora o planeamento e a análise profunda perderam grande parte da sua operacionalidade nos novos tempos. Disrupção significa também surpresa, necessidade de enfrentar o desconhecido. Algo que os portugueses já fizeram com coragem e ousadia em muitos momentos da sua história.
A economia e a sociedade do conhecimento são cada vez mais o cenário do presente. Uma sociedade baseada no conhecimento é uma sociedade cuja matriz essencial é caracterizada pelos indivíduos em rede e pelas dinâmicas colaborativas. Redes económicas, redes de solidariedade, redes de lazer, redes de aprendizagem.
Esta mudança altera de forma radical a forma como o Estado e a Administração se devem relacionar com a sociedade, assumindo cada vez mais o papel de capacitador e qualificador de pessoas, empresas e territórios. Por outro lado, a erosão progressiva da função agregadora primária outrora reservado ao Estado e às suas instituições, incluindo os Partidos Políticos, aumenta a importância dos valores e princípios de cada indivíduo na formação de agregados sociais cada vez mais flexíveis, resilientes e adaptáveis.
O empreendedorismo social é o contraponto necessário ao individualismo egoísta que marca a globalização económica liderada e estruturada em torno de fluxos especulativos de capitais.
Não existem respostas fáceis para os desafios dos nossos tempos, mas podemos desde já antever um caminho possível. O caminho da inovação social contaminante e do contágio das dinâmicas sociais pelo espírito empreendor, apoiado numa nova visão do papel do Estado como garante de oportunidades cada vez mais através da formação e da qualificação ao longo da vida e cada vez menos pelo intervenção não estritamente regulatória nos mercados de trabalho.
A globalização actual é uma globalização em rede. Global e reticular é o tipo de qualificativos que podemos aplicar com total propriedade à identidade de Portugal. Somos um país global e uma nação rede. Esta é a maior e a mais potente vantagem competitiva com que enfrentamos os desafios da economia do conhecimento.
Esta mudança da visão do Estado contaminará também as empresas, gerando um novo patamar de responsabilidade social mais focado no que permitem que se faça com o seu apoio, do que naquilo que fazem para reforçar o seu reconhecimento na sociedade como agentes de criação de oportunidades, riqueza e bem-estar.
Para quebrar as barreiras da inércia e da continuidade vale a pena ousar. Ousar pensar e ousar propor. A administração, as empresas e as organizações de carácter social têm um desafio crucial de modernização e de conexão às redes emergentes de talento e de criatividade.
Isso não se consegue contratando jovens para a base da pirâmide nem abrindo o assentamento de praça a generais sem conhecimento dos novos terrenos e sem experiência, que depressa envergam os velhos uniformes com que são recebidos.
É fundamental gerar lideranças de nova geração que serão a base da sustentabilidade das organizações do futuro. Proporcionar estágios de inserção na sociedade moderna, seja no mundo empresarial, seja noutro tipo de instituições, em zonas de responsabilidade e decisão partilhada pode ser um projecto disruptivo e mobilizador para a rede que o Congresso de Inovação Social consagrou.
Um País com 10 milhões de habitantes no seu território e mais de cinco milhões vivendo por todo o globo, com uma língua que extravasa largamente os seus nacionais, povoado por um povo criativo, flexível e com grande facilidade relacionamento em contextos multiculturais, pode e deve constituir um “living lab” de inovação social. Este Congresso de Inovação Social constitui uma oportunidade para lançar este desafio e para iniciar o esboço da resposta. A partir dele precisamos duma contaminação viral! De confiança e de determinação.
A constituição dum Fórum de Inovação Social é um ponto de partida.
Tenho esperança que o ponto de chegada deste movimento da sociedade civil, que o Governo segue com interesse e espírito aberto e colaborante, seja um País mais justo, mais equitativo, mais dinâmico, mais confiante e melhor preparado para integrar a rede liderante da nova globalização do século XXI.

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